sábado, dezembro 30, 2006

 

O Gato Comungador, a Lagartixa Conversadeira, o Castelo Rá-Tim-Bum e a Velha de 300 Anos

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Esse foi meu Natal. E teve muito mais, algumas situações hilárias, outra péssima. No geral foi divertidíssimo passar 6 dias na cidade de Pesqueira, agreste pernambucano. A começar pela ida ao TIP sem programação, já que uma tia minha "pegou" meu lugar no carro que iria me levar para lá. Não reclamei, pelo contrário, adorei a idéia de viajar sozinho, só me preoculpava com uma possível queda de pressão, pois havia doado sangue no mesmo dia. Chegando no Terminal sentei ao lado de uma jovem, na faixa de 30 anos, e batemos um papo. NÃO, eu não estava paquerando. Nem poderia, pois sua situação era delicadíssima: estava fujindo do marido para Belmonte. O idiota batiea nela. Ela havia chegado na estação às 14 horas e seu ônibus sairia às 22. Fiz companhia a ela até chegar a hora de minha partida, escutamos Os Camaradas e Tyrone Cigane (e achei que meu CD Player já mais chegaria a esse ponto! lastimável, mas foi para o bem). Ela chorou escutando Tyrone, tive pena, mas tive que me despidir. Emocionada, presenteou-me com o cd d´Os Camaradas, titubiei, disse que não aceitava, que seria melhor ficar com ela, mas pensando melhor aceitei aquele singelo e sincero presente de Natal. Aninha era seu nome, uma mulher forte, corajosa. Jamais a verei de novo. Cheguei em Pesqueira às 21 horas, faltando água há 17 dias.

Dia seguinte foi dia de fazer a barba de quase 3 meses. O barbeiro devia ter quase 80 anos e provavelmente era cego, algo para se preoculpar, pois uma navalha na mão de um leitor de braile é algo para se preoculpar sim. O velho deixou um monte de partes falhas, mas concertou. Este sábado foi curto, barba feita e livro para ler. Comecei lá em Pesqueira RELATOS DE UM NÁUFRAGO, do Nobel Gabriel Garcia Márquez. Livro adorável, linguagem acessível, irônico como poucos.

Domingo chegou e foi o primeiro banho na cidade. Tive que ser acordado para acompanhar o meu tio santo Bianor às 7 horas da matina. Acordei a contra-gosto, contudo algo de hilário aconteceu na igreja que despertou meu humor, que havia ficado dormindo enquanto eu, sem ele, fui à missa. No momento em que o padre se direciona aos fiéis com a comunhão, um gato de rua, magro e miúdo, anda em direção ao padre, dando a impressão de que queria comungar. Achei HILÁRIO! Um gato comungador.

Pesqueira reservou outras situações mais engraçadas que a do gato comungador. Por exemplo: eu, tia Odete e minha avó Terezinha fomos ver a lapinha da Catedral de Santa Águeda e minha tia faz um comentário bastante oportuno e bem humorado em relação aos bonecos da lapinha: "Essa vaca não podia ficar tão perto de Maria, é quase do tamanho dela.". Ê lelê! Genial. Outra não menos impagável foi quando retornamos da missa, eu e Bianor. Em pleno 89 anos ele ainda reserva um humor simples, de primeira. Durante a volta nós nos deparamos com uma senhora bem velhinha, seu Bianor aje, dá um leve tapinha no ombra da senhora, aponta para os cabelos brancos dela e solta um "Pelo jeito eu não sou o único a envelhercer.". "KKKKKKKKK!!" gargalhei discretamente (se é que é possível, mas foi). A velha, levemente constrangida, mas também humorada, dispara "É, eu sei que estou ficando velha". Como que num reflexo, perguntei a Bia (é assim o apelido dele) se ele a conhecia para tecer comentário tão descabido desse. Ele finaliza com um "Claro, ela é Salomé, uma velha que mora nessa rua há uns 300 anos". "KKKKKKKKK!!" - Parte 2. IMPAGÁVEL!!

Pois sim, conversei com uma lagartixa! Já viram aquele balancar de cabeça característico de uma lagartixa? Sem ter o que fazer, eu pedia uns conselhos a ela balançava a cabeça oportunamente. Como se me escutasse, entendesse e concordasse comigo, juro que tive a nítida sensação de que ela balançava a cabecinha na hora certa ou ficava parada. INCRÍVEL!

Contudo, a viagem de Natal não se resumiu a uma leitura agradável, boas risadas e descanso, teve também uma morte. Uma triste morte aconteceu na véspera do Natal, um (pasmem!) jovem de 26 anos de idade, recém-formado em Fisioterapia, teve um infarto cardíaco. Tia Odete me pediu para acompanhá-la na visita aos pais do falecido, somente uma visita. Vesti uma bermuda, achei apropriado, mas chegando na casa do garoto vejo uma verdadeira comitiva de mais 60 pessoas, todas de luto, esperando a saída do caixão, e eu, de bermuda e sandália. Foi horrível, o fato da bermuda foi mínimo em relação a visível dor dos pais em perder um filho com 26 anos de idade. Sempre soube me relacionar bem com o sofrimento, no melhor estilo Nietzsche de sofrer, então decidir chorar, sofrer um pouco agora, passar por um pouco do que os pais estavam passando, para caso esse infortunio se acometa em minha vida (por tudo que seja mais sagrado, livrai essa dor de mim!) eu já ter uma certa experiência. Tudo muito triste, aprendi que a ordem natural das coisas é o filho enterrar seus pais e não o inverso.

Tio Ozinaldo me acompanhou num City Tou pela cidade, fomos ao novo hotel da cidade, o 4 estrelas Estação Cruzeiro, revi as ruas com os nomes de minha bisavó Antonia Marinho de Andrada e o bisavô José Guilherme de Andrada, situadas no bairro de Pedra Redonda. Perto dali algo de grande e brega me chamou a atenção: a construção de um castelo em Pesqueira. Um casarão que está sendo ampliado verticalmente que tem um muro cheio de anjos e leões com asas. Agora ele decidiu fazer um misto de arquitetura russa com árabe, um breguiçe sem tamanho. Completamente distoante dos belos casarios da cidade. H-O-R-R-Í-V-E-L!!!

Esse foi o meu Natal. Uma saraivada de bom humor, parte da família reunida, muito descanso, um bom livro (ótimo, por sinal), muita comida (engordei 3 kg em 6 dias!) e a alegria de receber mais um vez a vinda de Jesus Cristo ao seio de seu mundo. Obrigado Papai do Céu.

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