sexta-feira, dezembro 29, 2006

 

Adam Sandler e o Existencialismo Mexicano


Saí da sala após assistir CLICK com o coração apertado. Esperava uma comédia “american family way of life” simpática e despretensiosa, com um protagonista carismático aos extremos, porém... sair da sala levemente sufocado não é um sintoma normal. Entretanto estava feliz. Sim, havia assistido a uma comédia simpática e despretensiosa, com um protagonista carismático aos extremos, só que com um detalhe: o “sanduíche” mistura “catchup” com “pimenta”. Ou seja: minha metáfora foi uma merda e o que eu quero dizer é sobre a mistura de gêneros (comédia com dramalhão mexicano) que CLICK é.

O filme é sobre Michael (Adam Sandler), um arquiteto profundamente dividido entre a família, que adora, e o trabalho, que pode lhe oferecer bem mais do que a casa de subúrbio onde mora. Ele é um cara estressado que vive se atrapalhando com a dúzia de controles remotos que habitam a sua sala. Certa noite, irritado, ele entra em uma loja em busca de um controle que unifique todos os outros e facilite seu descanso noturno. Acaba trombando com o estranho Morty (Christopher Walker), que lhe arruma um aparelho muito especial, capaz de dar fast forward nas partes chatas da vida (banhos, engarrafamentos) e congelar outras. Logo, Michael vai aprender que a traquitana pode lhe ajudar a acelerar uma promoção no emprego. A partir daí, o filme envereda por uma viagem quase surreal rumo ao futuro.

Notaram uma tênue semelhança com TODO PODEROSO, protagonizado pelo hilário Jim Carrey? Pois é, não tem fundamento a semelhança. Não se trata de cópia e sim de um gênero tipicamente roliudiano, que tem como lema o “não existe nada melhor que nossa família”. É uma vertente da comédia, assim como o Noir pode ser uma vertente dos filmes policiais e daí por diante. É um filme que trata mais uma vez do tema família, só que com uma roupagem da geração vídeo game. Funciona, mas quase parando.

Apesar de Adam Sandler está adorável no papel deste arquiteto frustrado com a vida, o filme destoa muito quanto às piadinhas clichês. Anedotas visuais com flatulências foram abusados sem o mínimo critério (ver Sandler mirar seu ânus para o bonachão Hasselhof não é lá muito divertido), sem contar com as sucessivas investidas sexuais de um cachorro contra um pato de pelúcia, merecedora de 7 repetidas seqüências, uma menos engraçada que a outra. Outro grande defeito – o pior – foi a “pimenta” do primeiro parágrafo. Um verdadeiro chororó mexicano foi injetado para dar a falsa impressão de profundidade dramática ao filme. Dá pena a cena da chuva, pena mesmo.

CLICK, a terceira parceria entre Adam Sandler e o diretor Frank Coraci, apesar de todos os defeitos, ainda sim é um comédia acima da média que explora bem superficialmente a corrida do Homem em busca da felicidade e seus artifícios para seu escopo. Tudo muito divertido, tudo muito raso. Sandler ainda é o melhor do filme. Sem esquecer da estonteante Kate Backinsale (a vampira de UNDERWORLD).


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