domingo, novembro 26, 2006

 

"Nick Naylor doesn´t hide the truth... he filters it."



Vamos ao dicionário Babylon aqui do meu PC para ilustrar o “filters” do slogan do cartaz e do título dessa crítica (“crítica”? nããão! Não é para tanto): “pass a liquid or gas through porous material to remove impurities, strain; slowly pass in or out; partially block the passage of; send through a filter”. G-E-N-I-A-L!!! Depois disso eu faço questão de pular para o próximo parágrafo e já iniciar com aquele breve resuminho da trama, ok? Até o próximo parágrafo.

Aqui estamos de volta. “O personagem principal é Nick Naylor, lobista das grandes empresas de cigarros. Para quem não sabe, esta profissão consiste, basicamente, em convencer as pessoas (compradores, no caso) de que tal produto ou ponto de vista, na verdade, é bom, e fazer com que elas realmente o defendam. Portanto, Nick, o nosso ‘herói’, consegue manter-se financeiramente através da defesa dos direitos dos fumantes na nossa cultura atual.”. Uma profissão das mais politicamente incorretas que pode existir é o ponto de partida para uma ácida dissertação cinematográfica sobre o perigo que é achar que os bons são só bons e os maus são só maus. Uma verdadeiro tapa na cara com a finésse desse novo diretor que inicia sua caminhada pela sétima arte de forma surpreendente. Jason Reitman dirigi um filme que tem como palavra de ordem a “argumentação”. Simplesmente babei na cena-emblema do filme em que Naylor (Aaron Eckhart) discorre sobre sua profissão para seu filho Joey (Cameron Bright – um dos pouco trabalhos em que ele é uma criança “normal”): “Michael Jordan joga basquete. Charles Manson mata pessoas. Eu falo”. Sem contar com outro excelente diálogo entre pai e filho sobre qual é o melhor sabor de chocolate que existe. “Se você argumenta corretamente, você nunca está errado”. G-E-N-I-A-L!

Se eu pudesse extrapolar o limite do quem vem a ser uma crítica cinematográfica eu, sem medo de ser feliz, indicaria como personagem principal dessa adaptação a Dialética. Assim como em “O Cortiço”, obra literária de Aluízio de Azevedo, em quem a própria vila é a protagonista da trama. Ok, Eckhart está fenomenal no papel, mas Naylor não teria fundamento narrativo, razão de existência, sem sua retórica dúbia. E isso tudo se deve principalmente a Christopher Buckley (não é para menos, com esse sobrenome tinha que ser talentoso – Tim, Jeff e agora Christopher Buckley), escritor do livro homônimo que deu origem ao filme. Ele é o grande merecedor de nossas palmas (sem tirar os méritos de Reitman, que assumiu direção e roteiro – sim! Isso é para poucos). Pena que fui descobrir muito depois a origem literária da trama, senão esperaria terminar de ler o livro para assistir ao filme (é assim que eu gosto). Voltando... Sim, a dialética. Todo o filme se concentra nisso: dos diálogos entre Naylor e seu filho ao happy-hour dos “Mercadores da Morte”, passando pela embolia pulmonar do Doak 'The Captain' Boykin e daí por diante. Essa duplicidade de verdades/mentiras torna tudo fascinante e bem humorado.

Eckhart merece ser ovacionado pela sua impecável atuação. Admito que não entendo muito de interpretação, não sei quais são os critérios para se qualificar uma atuação bem feita ou desastrosa. Só sei dizer quando é boa quando é algo fantástico, nítido para qualquer um, como foi o caso de Philip Seymour Hoffman em Capote (soberbo), Meryl Streep em O Diabo Veste Prada e de Aaron Eckhart neste filme. Com um sorriso cativante, uma retórica irreparável e um olhar ingênuo, em momento algum nós sentimos algum tipo de repulsa ou duvidamos do que Naylor diz ou faz. São esses detalhes que recheiam uma atuação digna de Oscar (no mínimo uma indicação). Clap clap para Aaron Eckhart.

Conclusão: sair do cinema com vontade de fumar não me assustou. Ter alguns argumentos a favor do cigarro, sim, me deixou em pânico! Cuidado, esse filme pode trazer sérios problemas para seu pulmão e é contra-indicado para quem é puritano até a alma. Vai sair com um tapa do cinema, escuta o que estou dizendo!


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