sábado, outubro 21, 2006
Pillar salva Zuzu
Zuzu Angel tinha tudo para ser um grande filme. Passa perto, só perto. Sérgio Rezendo não nos frustrou com mais um dramalhão clichê mãe-movendo-céus-e-terras-pelo-filho ou mesmo mulher-contra-ditadura (vou tentar ser mais explícito: “Olga”) que vem assolando o atual cinema brasileiro com pérolas do choramingo mexicano. Ainda sim, Zuzu Angel tem lá suas (hora do trocadilho infame) subversões, algumas sérias, outras nem tanto. Outra coisa: preciso resumir o filme com minhas palavras (odeio fazer isso) ou posso copiar de algum site? OPTION TWO. Ah, perdoe-me pelo atraso nos post sobre os filmes que ando vendo, estou, cronologicamente falando, anos-luz do último filme que assisti (o divertidíssimo “Deu a Louca na Chapeuzinho”).
“Para quem não conhece, Zuzu Angel foi uma estilista bastante famosa na virada dos anos 1960/70. Tinha talento, a ponto de conseguir projeção nos Estados Unidos e realizar desfiles de prestígio por lá. Porém, em 1971, teve o filho Stuart, um militante comunista, desaparecido nos porões da ditadura. Pôs-se então a denunciar o regime militar, inclusive através de criativas estampas que punha nos vestidos (o símbolo da grife era um anjo amordaçado). Incomodou tanto que acabou morta em um acidente de carro, em 1976. Duas décadas depois, uma investigação tardia do Congresso Nacional concluiu que a morte de Zuzu tinha sido provocada intencionalmente por sujeitos ligados às Forças Armadas”. Devemos agradecer por essa síntese ao Rogério Carreiro, colunista do site www.cinereporter.com.br . Já notaram a carga dramática da história? Pois é, o filme guarda isso para si de uma forma pesada, angustiante, quer com a trilha-sonora quer com as fortes imagens de espancamento, ou mesmo naquela belíssima cena na qual Zuzu lê para turistas dentro de um avião sobre a atual situação política do país em que se encontram sobrevoando. Detalhe para as belas imagens do Rio de Janeiro contrastando com as denúncias de censura e mortes disparadas pela estilista; um belo exercício de ironia cinematográfica e um dos pontos altos do filme.
O elenco é um verdadeiro céu: cheio de estrelas da poderosíssima GLOBO. Othon Bastos, Paulo Betti, Nelson Dantas, Antônio Pitanga, Luana Piovani e Regiane Alves fazem papéis menores (vejam só!), porém com eficiência, o que é, por outro lado, uma apelação midática para atrair todo tipo de expectador. Já quem decepcionou (o que é uma surpresa!) foi o casal Daniel de Oliveira (“Cazuza”) e Leandra Leal (“A Ostra e o Vento”), sempre competentes, contudo nitidamente prejudicados por um roteiro que os rebaixou a “comunistas reclamões”. Roteiro esse que incluiu em suas falas a pérola desnecessária “porcos imperialistas!” que tira qualquer indício de verossimilhança por parte da trama. Uma pena! Em compensação, Patrícia Pillar, mesmo com os mesmo defeitos de roteiro, cria uma Zuzu cativante, forte, determinada e com capacidade de absorver a intensidade da personagem que dá título ao filme. Também devo fundamentar o porquê do roteiro pecar também com Pillar: vê-la se jogando nas paredes de dor pela perda do filho e a cena inicial em que ela fala “Estou com medo de morrer” me deram pena. No sentido ruim da palavra. Contudo, excelente no papel. Além disso, o trabalho de envelhecimento e rejuvenescimento da atriz merece aplausos, já que, mesmo sutil, é suficiente para estabelecer a passagem do tempo.
No geral, o filme se sai muito bem, mas isso não vai me impedir de questionar isto: o que diabos aqueles flashbacks queriam dizer?!?!?!? Segundo Rogério Carreiro, o próprio diretor admite, no release distribuído aos críticos, que durante a fase de edição houve alterações na ordem dos flashbacks proposta pelo roteiro. Venhamos e convenhamos, um verdadeira invasão de imagens que destoavam da anterior e, nem sempre, traziam algo de importante a trama. Eu acabei meu 2º grau ano passado, nunca estudei cinema (só pretendo) e tais cenas pulavam aos olhos e doíam no coração. O grande defeito do filme, sem dúvida!
“E se a cena que traz a Elke fictícia traduzindo as palavras da Elke real encanta por seu inteligente exercício de metalinguagem (...)”. Apesar de ter sido escrito pelo meu crítico de cinema predileto (Pablo Vilaça, colunista do www.cinemaemcena.com.br ), não irei me curvar diante de tal despautério. Não gostei da referida cena, não vi graça, achei patética. E só.
Concluindo o filme como manda o figurino, Rezende incluiu nos créditos final uma música do genial (e como todo gênio, eterno) Chico Buarque de Holanda chamada “Angélica”. Se por acaso dessa a louca no planeta e resolvessem fazer Zuzu Angel 2 – O Retorno ou otherthing like that, Chico Buarque teria papel fundamental na trama como o homem que espalhou a carta recebida por ele de Zuzu Angel para grandes autoridades do mundo. Com essa possibilidade remota, vamos nos contentar com “Angélica” mesmo. Vamos ler um trechinho da música/poesia que foi recitado pelo músico no filme: “Só queria embalar meu filho / Que mora na escuridão do mar. (...) Só queria agasalhar meu anjo / E deixar seu corpo descansar. (...) Queria cantar por meu menino / Que ele não pode mais cantar”.
Zuzu Angel podia ser mais ousado, podia ser mais pungente, podia ser mais Zuzu Angel, mas agüentou o fôlego até onde pôde ir. Ainda sim consegue agradar. 3 estrelas.