segunda-feira, setembro 18, 2006
G-E-N-I-A-L!!!
Digo e repito mil vezes se necessário: “Carros” flerta com a genialidade. A PIXAR volta com elegância de praxe a produzir um filme que “anima um mundo inanimável”, depois do notório sucesso de bilheteria e crítica de “Os Incríveis”, primeiro filme da produtora com humanos como protagonista (se bem que correr mais rápido que uma flecha e ter braços de borracha passa longa de serem características humanas). É com esse flerte fatal de genialidade que John Lasseter dirige um deslumbrante e divertidíssimo filme sobre o valor da amizade (lugar-comum se tratando de filmes infantis, ponto contra). Não é a toa que “Carros” foi dirigido e escrito por Lasseter: filho de mecânico, aprendeu desde de cedo a sentir prazer em corridas de carro e pelo mundo automobilístico. Depois de 10 anos somente produzindo, ele traz para si a responsabilidade de dirigir o filme que comemora os 20 anos da PIXAR.
Esteticamente impecável, “Carros” ressuscita a nostálgica Rota 66, primeira rodovia interestadual dos Estados Unidos, a principal via de ligação entre o leste (Chicago) e o oeste (Los Angeles) e a mais importante nos anos de 1950. Talvez a aposta por ambientar grande parte do filme em um momento histórico que as pessoas desconhecem tenha se mostrado pouco eficaz para ser consumida por uma geração que não tem idéia do que foi a mitológica Rota 66 (incluo-me neste grupo), principalmente para nós brasileiros. Hoje em dia, não passa de uma velha estrada cheia de mato e asfalto digna de uma taxa Tapa-Buraco. Outro fator que distancia o filme do espectador leigo em relação a pontos da cultura norte-americana é o universo das corridas Nascar, a mais popular categoria automobilística do país. Tiro por mim mesmo, sou um desgostoso da Fórmula-1, não vejo graça neste tipo de corrida, muito menos em algo que não faz parte do nosso dia a dia, Nascar. Porém nada disso empata os mérito desta produção que fez babar a mim e minha madrecita querida.
Inevitável é não tocar no assunto QUALIDADE quando se trata do trio PIXAR/DISNEY/LASSETER: torna-se até um pleonasmo e por que não uma heresia ignorar o que os olhos vêem. Notem o preciosismo que dão tanto para as cenas de ritmo mais calmo quanto para as estroboscópicas imagens do circuito oval no inicio e no fim do filme. Detalhe para as câmeras em ângulo baixo que parecem ser atingidas pelos automóveis com tremidinhas reais e captam até os minúsculos pedacinhos de asfalto que se desprendem do chão. A viagem de McQueen em seu caminhão particular à noite demonstra o nível de verossimilhança da tecnologia digital com a realidade. Luzes néon e um pôr-do-sol incrivelmente real são exemplos fáticos disso.
Conclusão: “Carros” não traz nenhuma novidade em animação digital para cinema em relação a outras produções (“Procurando Nemo” – Animação com fluido; “Toy Story” – Gênesis da PIXAR e “Os Incríveis” – Personagens humanos), contudo é genial (genial, sim!) por: conseguir se sustentar com um enredo mediano, ser infantil, juvenil e adulto, ser democrático (até quem não tem simpatia por carros rende-se e fica com a pulga atrás da orelha) e por prezar pela qualidade técnica de forma brilhante. Um clássico da animação que acaba de entrar para a lista dos melhores filmes de minha vida.
Vale lembrar o curta que antecede ao filme é um dos melhores e, para mim, é forte candidato ao OSCAR 2007. Quem lembra do “For the Birds”, ganhador do Oscar e iniciou “Monstros S/A”. Excelente!