sábado, setembro 23, 2006
Emocionate, porém limitado.

Decididamente a ser um filme comercial, o filme peca pelo excesso de didatismo ao transformar tudo em uma aula de história (o mesmo grande defeito do cão-que-ladra-e-não-morde O Código DaVinci). O início, com letreiros e mapas que ficariam melhor numa apresentação de Power Point que numa obra cinematográfica mostra um pouco do tratamento capitalista da obra. Legenda dizendo “Nove anos depois” logo após ser notório ao público que Tristão cresceu não é mole. Contudo, no geral o filme se mostra bom. Somente bom.
Em relação à escolha dos atores a produção acerta em cheio, apesar de James Franco (Harry Osborne – Homem Aranha) não ter me agradado com sua performance sabor pepino. Preferiria infinitas vezes Orlando Bloom no seu lugar, depois da convincente atuação como o guerreiro Ballian, em Cruzada. Sophia Myles está ótima, ainda sim não consegui eclipsar o excelente Rufus Sewell como Lorde Marke, curador de Tristão. Não é um personagem fácil. Sua paternalidade e notória bondade para com o clã inglês do qual é rei torna muito mais difícil para Tristão sustentar sua “infidelidade”.
É este dilema, aliás, que torna a história tão fascinante, ganhando ainda mais complexidade graças ao bom caráter do rei Marke: caso este fosse retratado como um homem indigno ou cruel, o amor dos dois jovens certamente se tornaria automaticamente justo aos olhos do espectador. Porém, o monarca é um indivíduo íntegro e de bom coração, além de amar sinceramente sua esposa e seu “sobrinho” (no filme, ao contrário da obra literária, ele não é realmente tio do rapaz), e isto torna o triângulo amoroso algo de difícil resolução do ponto de vista dramático. Como se não bastasse, foi justamente Marke quem salvou a vida de Tristão, na mesma ocasião em que este testemunhou o assassinato do pai, o valoroso Aragon (atenção, tolkenmaníacos: antes que tenham um orgasmo, reparem que não há 'r' antes do 'n').Isso é um dos pontos altos do filme.
Com sensibilidade e romantismo, na medida certa, o inesquecível e emocionante drama histórico Tristão & Isolda é apresentado ao cinema de forma realista e decente, sem maniqueísmos e moralismos sobre fidelidade e honra, apesar das nítidas limitações. Recomendado.